Dubliners, The Dead
Reli há dias estes contos de Joyce, numa espécie de comemoração do Bloomsday em ponto pequeno (sim, porque Dubliners é tremendamente mais fácil de ler que o Ulisses). Confesso que me lembrava de muito pouco, apenas alguns dos contos me vinham vagamente à memória. Julgo que quando li Dubliners pela primeira vez o livro não me impressionou. Tudo sinais de que provavelmente o tinha lido mal.
A re-leitura fez-me ver tudo com novos olhos. Adorei todos os contos. Retratam uma Irlanda antiga, uma Irlanda presa à religião (ou religiões), uma Irlanda que lutava consigo própria, dividida entre aqueles que querem um país livre e os que vivem alegremente na vassalagem à coroa Britânica. Todos os contos mostram um pouco dessa realidade. Mas foi o último destes contos, 'The Dead', que mais me impressionou.
Conta a história de Gabriel, um professor que também escreve critica literária para um jornal. Começa por ser apresentado como alguém bastante seguro e adorado pelas suas velhas tias. Mas vamos lentamente percebendo que Gabriel não é realmente assim tão seguro de si próprio. Começa a notar-se isso quando ele se questiona acerca do discurso que preparou. Ou nos dois episódios com a Lily e depois com a Miss Ivors, em que fica embaraçado e sem saber como reagir.
O conto toca muitas outras temáticas, como por exemplo o nacionalismo Irlandês, com referências aos movimentos que tentam reavivar a própria língua Gaélica. E para o final do conto o génio de Joyce reserva ainda uma surpreendente introspecção feita por Gabriel, depois de malograda a sua luxúria, acerca da morte e da vida banal que tem levado até então. Como é que tudo isto cabe dentro de um pequeno conto? E... como é que eu não me lembrava de que já o ter lido antes?