A Obra ao Negro
Terminei há dias de ler "A Obra ao Negro" de Marguerite Yourcenar. Não foi a minha primeira tentativa de ler uma obra da autora belga. Há uns anos tentei ler "Como a Água que Corre", mas desisti. Não me lembro de nada do que li, lembro-me de que não gostei. "A Obra ao Negro" também não me agradou e foi provavelmente a última coisa que li de Yourcenar. Na realidade, estive quase a desistir por volta da página 60, mas algo me obrigou a concluir um livro dela. Como a vida é demasiado curta para a quantidade de livros que há para serem lidos, nunca (ou muito raramente...) me obrigo a terminar de ler um apenas porque o comecei!
Quando leio um romance, geralmente a sua história, por muito boa que seja, raramente é aquilo que me seduz. Há excepções, claro. Por exemplo, no realismo mágico consigo ficar preso à história do princípio ao fim. As histórias do Salman Rushdie, do García Márquez, ou do Saramago costumam deixar-me maravilhado. Mas a regra é que normalmente a história não chega. E em Yourcenar o que me sobra depois de se retirar a história é muito pouco. Claro que ela sabe escrever bem, quem sou eu! É uma escrita bastante clara, fluida e fácil de seguir.
E é claro que aprendi muitas coisas com a história de Zenão neste romance. Por exemplo, obrigou-me a ir investigar o que foi a rebelião de Münster. Recomendo que vão procurar à wikipedia, mas em resumo: no século XVI, um anabaptista radical ("anabaptista"? Ou "anabatista"? Não tenho o dicionário aqui à mão) tentou aí criar a "Cidade de Deus", e obviamente terminou em massacres horrendos. Gostei de alguns diálogos mais filosóficos que vão aparecendo, das alusões a factos e pessoas que todos conhecemos do Renascimento (especialmente em Itália). Mas é pouco. Muito pouco. Mas vão ler e tirem as vossas conclusões.