Terminei de ler "O Duplo" de Dostoievski. Obra de início de carreira do escritor, este pequeno livro é uma obra curiosa que, apesar de bem longo de "Os Demónios" ou "Os Irmãos Karamazov", não deixa de antever já o génio da psicologia que Dostoievski será.
A história do triste senhor Goliádkin, un simples, um simples e medíocre funcionário, que encontra (aquilo que ele julga ser) o seu doppelgänger, é uma história que não pode deixar de lembrar Kafka. O autor consegue gerir o tempo da história de modo a que apenas no final todo o mistério seja esclarecido, apesar de várias pistas, vários pormenores que vão sendo realçados vão fazendo nascer a desconfiança desde muito cedo no leitor. A paranoia do senhor Goliádkin, a visita ao médico, a incapacidade de raciocinar e de articular um discurso coerente e a constante mudança de rumo levantam suspeitas acerca do estado mental do protagonista da história.
Bom, não sendo uma novela brilhante, trata-se de uma leitura agradável, em particular pelas descrições pormenorizadas das tensões psicológicas do pobre protagonista, com a sua revolta contra a sociedade (que lhe é bastante hostil e cruel) e contra as convenções.
"Bem, isto não é nada [...] talvez não seja absolutamente nada [...] pode ser que tudo isto a seu tempo se resolva pelo melhor [...]"