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Náuseas

Neuras do dia-a-dia

Neuras do dia-a-dia

Náuseas

30
Abr19

A perna estragada de uma bailarina

náuseas

Ontem fui ver/ouvir um espectáculo de dança+música+teatro. Chamava-se "A perna esquerda de Tchaikovski", com Mário Laginha no Piano e Barbora Hruskova na voz e na dança. Foi... mágico. Em duas palavras, a peça centra-se na história (rela, ao que percebi) de uma ex-bailarina principal (a própria Barbora) da Companhia Nacional de Bailado que terminou a sua carreira após uma vida cheia de prazer, dor e dança. Conta-nos o que está antes da dança, antes do espectáculo, os traumatismos, as tragédias, o trabalho. Ontem, no dia mundial da dança, emocionei-me com uma bailarina.

19
Abr19

Dor de remos

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Nada a dizer, a não ser isso mesmo. Tenho andado com as pálpebras ácidas de sono, dias arrastados, pegajosos do trabalho do dia-a-dia. Mas apenas isso, o viver automático a que nos condenaram. Seguem-se uns dias para descansar os braços de remar nesta corrente, mas sei antecipadamente que quando voltar a pegar nos remos as dores nos braços voltarão redobradas.

 

13
Abr19

E o abismo olhou-me de volta...

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Não sei se já disse, mas comecei uma epopeia em que pretendo reler tudo (ou pelo menos as obras principais) de Dostoievski. Comecei com "O Duplo" e terminei agora as "Memórias do Subterrâneo", as únicas duas obras que tenho e que nunca tinha lido antes. E o "Memórias..." é um livro absolutamente aterrador!  Depois de o ler, preciso de fazer uma pausa para ter um pouco de luz. Já fui apanhar o Alberto Caeiro para ver se ajuda.

 

Bom, mas o livro... lê-se rápido (mas eu sou muito lento a ler!) e trata-se das memórias de um narrador que vive em Petersburgo, alguém bastante isolado da sociedade e bastante amargurado, sem amor-próprio e que se entrega a baixezas incríveis. Na primeira parte do livro, o narrador combate um pouco o espírito da época, atacando várias ideias modernas (como o determinismo, idealismo marxistas, etc). Prova que o melhor que se tem a fazer neste mundo é... ficar sentado e não fazer nada. Na segunda parte, conta a história de como deu uma esperança a alguém que estava "na lama". Quando essa pessoa (a Liza, um jovem prostituta) vê brilhar uma pequena luz e uma mão a puxá-la, essa mão de repente larga-a novamente e deixa-a afundar mais ainda.

 

Parece que este romance é considerado um dos primeiros romances existencialistas. Percebe-se que assim seja. Recomendo vivamente o livro... mas tenha algo pronto para a seguir desintoxicar. Acho que vou ter de fazer uma pausa na minha maratona Dostoievski.

12
Abr19

Sol no gato

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Tédio imenso. Luto por me concentrar no meu trabalho mas o sol ronrona no meu gato lá fora, tudo em mim quer ser o gato na luz. Um violino de Mozart impele-me também a sair. Mas a penumbra, a penumbra.

03
Abr19

O Duplo

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o-duplo.png

Terminei de ler "O Duplo" de Dostoievski. Obra de início de carreira do escritor, este pequeno livro é uma obra curiosa que, apesar de bem longo de "Os Demónios" ou "Os Irmãos Karamazov", não deixa de antever já o génio da psicologia que Dostoievski será.

 

A história do triste senhor Goliádkin, un simples, um simples e medíocre funcionário, que encontra (aquilo que ele julga ser) o seu doppelgänger, é uma história que não pode deixar de lembrar Kafka. O autor consegue gerir o tempo da história de modo a que apenas no final todo o mistério seja esclarecido, apesar de várias pistas, vários pormenores que vão sendo realçados vão fazendo nascer a desconfiança desde muito cedo no leitor. A paranoia do senhor Goliádkin, a visita ao médico, a incapacidade de raciocinar e de articular um discurso coerente e a constante mudança de rumo levantam suspeitas acerca do estado mental do protagonista da história.

 

Bom, não sendo uma novela brilhante, trata-se de uma leitura agradável, em particular pelas descrições pormenorizadas das tensões psicológicas do pobre protagonista, com a sua revolta contra a sociedade (que lhe é bastante hostil e cruel) e contra as convenções.

 

"Bem, isto não é nada [...] talvez não seja absolutamente nada [...] pode ser que tudo isto a seu tempo se resolva pelo melhor [...]"

02
Abr19

Voltar para dentro

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Sinto, por vezes, vontade de lá ir fora para ver os outros. Uma tontura, uma náusea impele-me a procurar o conforto que é vê-los, sentir a sua felicidade, o seu mundo. Vejo-os da janela da minha solidão, onde me aqueço com Brahms.


Mas se cedo a esse ímpeto de ir lá fora logo me arrependo e me revolto de ter vindo para o frio que parecia calor, para a sombra que parecia sol. E volto a correr para dentro.

01
Abr19

Ouvir-me a ser, apenas

náuseas

Não sei porque escrevo hoje, não tinha nada para dizer.  De resto, raramente tenho.  Quando comecei a escrever estas palavras procurava apenas distrair-me do trabalho que continua a aguardar-me ali na mesa.  Distraía-me a observar os gatos, cujo ócio invejo.  Agora distraio-me a ver as palavras a sair da minha pena ("porque terei dito pena?"), automáticas, provavelmente desprovidas de sentido.  Digo provavelmente porque me recuso conscientemente a voltar atrás para reler. ("Reler é um luxo burguês", dizia-me em tempos um amigo que já lá vai.)  Bom, vou parar agora.  Ouvir-me a ser, apenas.